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Magdaleno Girão Barroso - Carta à Marizot

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Rio, 26 de julho de 1988

Cara Marizot e família

Com grande surpresa soubemos pelos jornais do inesperado falecimento do nosso querido primo Raimundo Girão, que ignorávamos estivesse doente.

Pois, da última vez que estivemos aí em Fortaleza, em sua casa, ele demonstrava estar muito saudável e ainda em plena forma, inclusive para a atividade cultural. Recém publicara o livreto "Pequena Galeria Moradanovense" e continuava a se dedicar à obra genealógica da família. Como um verdadeiro gigante das letras, morreu sem descanso pelo enriquecimento intelectual de nossa terra.

Estive relendo, há pouco, algumas das admiráveis páginas de sua autobiografia - "Palestina, uma Agulha a as Saudades", onde se descobre a travessia de uma grande e nobre alma e o quanto esteve sua vida entrelaçada à História do Ceará. História de que agora por diante fará parte a sua memória, para edificação de todos aqueles que na construção do futuro necessitarem das lições de grandeza que ele nos deixou.

Digna da galeria dos homens ilustres, varões de Plutarco ou "representative men" de Emerson, o nosso Girão realizou-se como exemplo incomparável de retidão moral, lucidez de espírito, amor ao trabalho e suas realizações objetivas, atuando com notável acuidade e sabedoria em todas as frentes a que foi levado por sua capacidade pessoal ou a que foi chamado por sua confiante expressão de honradez.

Jurista, distinguiu-se, além da advocacia, com uma tese de doutorado sobre "O Fenômeno Freudiano e a Criminologia"; professor, escreveu "História Econômica Geral e do Brasil"; escritor, devemos-lhe notável acervo de obras sobre os mais diferentes assuntos, destacando-se a "Evolução Histórica Cearense", tudo isso às voltas com importantes cargos administrativos, sempre exercidos em nível da maior probidade e competência.

Sobre a vida física reina o poder da morte; com ela temos de nos conformar. A vida espiritual a cultural, no entanto, projeta-se no tempo não dimensional da existência histórica, senão da mesma eternidade, aonde não chega, porém, a nossa presunção de conhecimento. Uma coisa é certa, todavia: quem, como Raimundo Girão, soube praticar o bem, viver do bem e para o bem, tudo de bom pode esperar do tempo histórico e nada temer da temporal eternidade.

Todos aqui, eu, Elerisa, nossos filhos e netos apresentamos aos queridos primos os mais sentidos pêsames e nos associamos profundamente consternados à sua mágoa, que a saudade, "presença do ausente", haverá de consolar.

Um abraço do Magdaleno.

(Publicado no livro "Raimundo Girão, o Homem (1900-2000)", organizado por Eurípedes Chaves Júnior e Valdelice Carneiro Girão. Fortaleza, Editora Gráfica LCR, 2000. 257 p.)

Magdaleno Girão Barroso. Escritor, jurista, ex-professor da Faculdades de Direito da UFC e da UERJ.


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